Escrito por Fernanda Sherly Rocha Soares
Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), será a maior planta de dessalinização para consumo humano da América Latina, com capacidade de produção prevista em mil litros por segundo. A tecnologia de osmose reversa para retirada do sal da água marina foi fornecida por uma empresa israelense, país que passa por um cenário hídrico muito similar ao brasileiro e onde já tem esse sistema implementado.
Autorizada em julho de 2021 pelo governador Camilo Santana e início das obras em março de 2024, a usina de dessalinização de água marinha em Fortaleza surgiu como uma alternativa para mitigar os impactos dos longos períodos cíclicos de escassez hídrica sofridos pelos cearenses. A iniciativa surgiu em 2015, momento em que o Ceará enfrentava uma forte seca. Assim, buscando recursos da iniciativa privada, o projeto surgiu como opção para diversificar a matriz hídrica do Estado. É importante salientar que, segundo previsão da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Ceará está na iminência de uma nova estiagem, por conta do atual cenário de El Niño, que influencia diretamente na quadra chuvosa da região.
A previsão é de cerca de 720 mil pessoas serem diretamente beneficiadas com o projeto – representando o aumento de 12% na oferta de água -, além de beneficiar indiretamente diversas cidades do interior, por conta da menor pressão sobre o sistema hídrico que as abastece. A água potável gerada será destinada aos reservatórios do Mucuripe e Praça da Impressa (Aldeota), sendo distribuída para as regiões do Papicu, Varjota, Cidade 2000, Praia do Futuro, Caça e Pesca, Cais do Porto, Serviluz, Vicente Pizón e Dunas, Aldeota e adjacências.
A obra será realizada por meio de Parceria Público-Privada (PPP) com o consórcio SPE Águas de Fortaleza (composto pelas empresas Marquise S/A, PB Construções LTDA e Abegoa Água S/A), que será responsável pela construção, operação e manutenção pelos sistemas físicos, operacionais e gerenciais de entrega da água potável e suas unidades de medição, assim como disposição dos rejeitos finais que serão gerados. Na parceria, a Cagece vai custear somente a produção e definir o volume de água preciso produzir, que dependem dos níveis nos açudes de abastecimento. Assim, a usina funcionará sob demanda, operando em capacidade total apenas na escassez hídrica.
Imagem 1: Esquema do processo de fornecimento da água
Como funciona o processo de dessalinização?
O processo ocorre por meio da chamada Osmose Reversa, no qual a água é captada por uma torre submersa no mar e direcionada por tubos para uma estação elevatória, que será construída em terra, responsável por bombear por cerca de 500 metros a água do mar para filtros de areia, já localizada na planta de dessalinização, onde ocorre a separação de todo o material particulado.
Imagem 2: Imagem de torre de captação submersa a 14 metros de profundidade
Em seguida, a água passa por filtros mais finos e entra no processo de osmose reversa, que retira da água salgada os sais dissolvidos. Após essa etapa, ela passará por processos remineralização, desinfecção e fluoração e somente então é fornecida aos reservatórios da Cagece.
Imagem 3: Unidades da planta de dessalinização da água marinha
A construção da usina influenciará na internet do país?
Como já foi dito, a torre de captação e algumas tubulações serão construídas submersas, a 14 metros, no mar da Praia do Futuro, afastadas há 1 quilômetro da costa. Nas primeiras versões do projeto, as tubulações estavam entre dois cabos de fibra ótica que conectam o Brasil e a Europa, que segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), são cabos responsáveis por 99% do tráfego de dados. Dessa maneira, o rompimento desses cabos influenciaria diretamente na internet do país.
Imagem 4: Em projeto inicial, observa-se no esquema, em verde, a estrutura de captação da água marinha entre os cabos de fibra ótica, representados em laranja.
Após pedido da Anatel e sugestão do Comitê Internacional de Proteção dos Cabos (ICPC, em inglês), o projeto foi alterado e agora a estrutura ficará a uma distância de 567 metros dos cabos de fibra ótica.
Imagem 5: Após mudanças, a área de captação de água marinha se distancia mais de 500 metros dos cabos de fibra ótica.
Rejeitos do tratamento de água e os seus impactos ambientais
A cada 2,3 mil litros de água marina, apenas mil litros irão para o consumo humano. Assim, juntamente com 1,3 mil litros direcionados ao tanque de rejeito, também chegará as águas de lavagem dos filtros do pré tratamento. Todo esse material – com alta concentração de sais, conhecido como salmoura – será bombeado novamente ao mar.
A tubulação projetada para tal garante que a água residual seja dispersada em vários pontos, para que as correntes marinhas diluam a salmoura no oceano. Assim, o projeto ambiental recebeu aprovação de que não haverá danos ambientais.
Imagem 6: Tubulação de transporte dos rejeitos
Referências
Portal do Governo do Estado do Ceará. Governo do Ceará autoriza construção da maior usina de dessalinização de água do mar do País. Disponível em: https://www.ceara.gov.br/2021/07/20/governo-do-ceara-autoriza-construcao-da-maior-usina-de-dessalinizacao-de-agua-do-mar-do-pais/ Acesso em 09 de março de 2024.
G1 Ceará. Entenda como funciona a usina que tira sal da água do mar e gera embate por risco de derrubar a internet no Brasil. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2023/10/07/entenda-como-funciona-a-usina-que-tira-sal-da-agua-do-mar-e-gera-embate-por-risco-de-derrubar-a-internet-no-brasil.ghtml. Acesso em 09 de março de 2024.
Revista O Empreiteiro. Fortaleza terá usina de dessalinização para atender 720 mil pessoas. Disponível em: https://revistaoe.com.br/fortaleza-tera-usina-de-dessalinizacao-para-atender-720-mil-pessoas/ Acesso em: 09 de março de 2024.