SMART CITIES: RESOLVENDO PROBLEMAS URBANOS COM TECNOLOGIA

AFINAL, O QUE É UMA SMART CITY?

Para compreender o conceito de smart city, cidade inteligente, é importante destacar a relevância que os centro urbanos vêm ganhando no cenário mundial: atualmente, 55% da população mundial está localizada na zona urbana; em 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas, a projeção dessa porcentagem será de 68%!

Dessa forma, se o ritmo de crescimento seguir os padrões estabelecidos atualmente na maioria das cidades, a tendência é que com o aumento da população urbana, haja também um aumento de transportes particulares e de geração de resíduos. Consequentemente, com mais automóveis em uso, aumenta-se a emissão de gases poluentes, o que afeta diretamente a saúde de milhares de pessoas, e eleva-se o nível de estresse dos residentes de centros urbanos, pois com um tráfego mais volumoso, intensificam-se os congestionamentos e o nível de ruído. Além disso, com a geração desenfreada de resíduos sem uma política adequada de reutilização e de destinação, os recursos naturais serão muito em breve esgotados: em 2030 serão necessários recursos equivalentes a dois planetas Terra para manter este padrão.

Assim, fica evidente que as cidades terão que se adaptar, mudar completamente o estilo de planejamento e de administração para conviver com considerável adensamento de pessoas em pouco tempo. Nesse sentido, o conceito de smart city funciona como uma solução: centros urbanos terão sua logística baseada em tecnologia, acessibilidade, mobilidade, sustentabilidade e inovação.

Smart cities propõem uma nova maneira de definir planejamento e administração das cidades, pois elas são projetadas para, principalmente, proporcionar QUALIDADE DE VIDA à população. Nesse contexto, surge inclusive um novo indicador de desenvolvimento: Felicidade Interna Bruta (FIB), como cita a arquiteta e urbanista Patrícia Fraga em entrevista para o Canal Futura, o qual engloba dados como renda, estilo de vida, possibilidades de lazer e de convivência comunitária, sendo adaptável para qualquer cidade, uma vez que essa é responsável por definir seu conceito de felicidade.

Um ideia chave utilizada em cidades inteligentes é baseada na integração aplicada às zonas de uso. De acordo com o urbanismo modernista, o uso adequado do espaço urbano seria a partir das zonas de usos exclusivos, ou seja, cada região ou bairro da cidade seria ocupado por uma zona, seja ela residencial, comercial ou de lazer. Porém, com o adensamento atual dos principais centros urbanos do mundo, verifica-se que essa distribuição não é adequada, uma vez que aumenta as distâncias diárias a serem percorridas por quase toda a população, e estimula, assim, o uso de automóveis particulares, o que provoca todos os malefícios citados anteriormente, e estimula o sedentarismo. Com as smart cities, essa discretização de zonas é substituída pelo uso misto, ou seja, empregos, moradias e serviços serão presentes em todos os bairros, sendo, então, próximos uns aos outros. Com isso, o uso do automóvel cai, uma vez que as distâncias poderão ser percorridas à pé.

 

QUAIS CIDADES PODEM SER CONSIDERADAS INTELIGENTES?

É comum que ao se tratar de smart cities seja formulada a pergunta “Quais cidades podem ser consideradas inteligentes?”, o que não é um pensamento construtivo, e deve ser substituído por “Como tornar uma cidade mais inteligente?”. De fato, cidades que não são planejadas, nem possuem qualquer elemento inovativo ou de integração que remeta à smart city, podem desenvolver características que as tornem MAIS inteligentes, e é isso que deve ser estimulado desde já em grandes centros urbanos. É importante que esses possam repensar o modo com que administram seus componentes para que possam tornar o ambiente urbano mais integrado e eficiente.

Várias cidades em todo o mundo já começaram a investir nessa atualização de logística, e com isso, estão se tornando cada vez mais inteligentes. Um bom exemplo é New York, nos EUA, que vem implementando uma série de inovações tecnológicas para lidar com seu adensamento excessivo, e, para isso, criou até um departamento municipal de tecnologia. Como exemplo dessas inovações, pode-se citar a pesquisa, ainda em desenvolvimento, que possui como objetivo unificar os serviços de transporte público com algumas funcionalidades do aplicativo Uber: ônibus poderão atualizar suas rotas de acordo com a demanda em tempo real de passageiros. Além disso, um outro exemplo seria o aplicativo CIVIC HALL, aplicado para residentes nova-iorquinos, o qual foca em desenvolver cidadãos inteligentes, pois nele a população pode participar de tomadas de decisões importantes, que muitas vezes não seriam tão transparentes.

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No contexto de sustentabilidade, a cidade de Songdo é um dos principais exemplos, uma vez que seu sistema de coleta de resíduos é feito de forma pneumática, onde seus habitantes depositam os resíduos recicláveis em um recipiente e esses resíduos são encaminhados para aterros a partir de um complexo de dutos montados no subsolo. Esse sistema exclusivo ajuda a diminuir o uso e tráfego de caminhões.

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Outra estratégia que vem alcançando muitos resultados positivos ocorre em Barcelona, na Espanha, e recebe o nome de SUPER-BLOCOS. Sua definição consiste em um espaço de aproximadamente 400X400 metros, sendo estruturado por componentes internos e externos. Em seu interior, é permitido apenas a entrada de tráfego residencial, de serviços, de emergências e de veículos de carga/descarga em situações especiais, com limite máximo de velocidade de 10km/h. Ou seja, o foco dos super-blocos é devolver o espaço público para os cidadãos, uma vez que o espaço utilizado normalmente pelos veículos (ruas e avenidas) poderá ser utilizado com segurança pela população que se locomove à pé. Apenas em seu perímetro, a parte exterior, é que o tráfego pode circular convencionalmente.

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Em relação ao Brasil, as cidades inteligentes estão avançando aos poucos. No ranking das 165 principais Smart Cities do mundo, divulgado pelo IESE Bussiness School, o país possui 6 posições: São Paulo (116ª), Rio de Janeiro (126ª), Curitiba (135ª), Brasília (138ª), Salvador (147ª) e Belo Horizonte (151ª). São Paulo se destaca pelos investimentos em mobilidade urbana, com a criação de mais ciclofaixas e corredores de ônibus. Curitiba, por sua vez, inovou com a criação do Ecoelétrico, uma frota de carros elétricos que prestam serviços públicos. Desde a sua implantação, em 2014, a cidade poupou a emissão de mais de 12.264 quilogramas de gás carbônico na atmosfera. Já Salvador, a única cidade do Nordeste no ranking, investe na tecnologia para melhorar a mobilidade urbana e a produção de energia. Além da criação de um aplicativo para os passageiros de ônibus, o governo local investe na inteligência da coisas (IoT) para monitorar a iluminação de locais públicos. Dessa forma, existe uma redução no consumo de energia e mais rapidez na manutenção de equipamentos.

Um outro exemplo interessante de aplicação dos conceitos de smart city está sendo desenvolvido no Ceará: a cidade Croatá Laguna EcoPark é a primeira cidade 100% inteligente e sustentável a ser construída no Brasil. O empreendimento está localizado em Croatá, interior do Ceará, em uma posição estratégica, próxima do Porto do Pecém, Complexo Industrial e a 55 Km de Fortaleza e deve se tornar referência para outros municípios do Brasil, assim que for inaugurado.  Em vez de morar em um bairro anônimo do subúrbio, o habitante estará imerso num sistema social integrado, com sinal wi-fi liberado, aplicativos específicos para serviços de transporte alternativo, compartilhamento de bicicletas e motos, pagamentos via smartphone, além de reaproveitamento das águas residuais, controle computadorizado da iluminação pública e praças dotadas de equipamentos esportivos que geram energia. A tecnologia também oferecerá ajuda para desenvolver programas sociais, como cursos de prevenção médica, nutrição, alfabetização digital e hortas compartilhadas.

Após tantos exemplos de metodologias bem-sucedidas, além das várias que não foram mencionadas, fica evidente que os centros urbanos ao redor do mundo vêm se conscientizando aos poucos para continuarem sendo habitáveis, focando em proporcionar qualidade de vida para sua população. Todavia, ainda não temos uma quantidade significativa de cidades aderentes ao conceito de smart city, e a responsabilidade de mudar essa situação está em cada cidadão, para que juntos possam evoluir, aos poucos, a administração e o planejamento dos centros urbanos, colocando em prática o conceito de “cidadão inteligente”.

 

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