Pensamento Estratégico: Diferencial na vida profissional e pessoal do Engenheiro.

Escrito por: Rodrigo Angelo Albuquerque Mendes e Antonio Bruno Rocha Carvalho

O pensamento estratégico é uma das principais soft skills que devem ser trabalhadas e desenvolvidas por todo e qualquer engenheiro que busque se destacar em meio ao seu mercado de trabalho, uma vez que, é possível notar facilmente o quão cultural é, no Brasil, agir de forma a “estar o tempo todo apagando incêndios”.

Como assim apagando incêndios?

Essa expressão é utilizada, uma vez que sempre existirão momentos na vida de qualquer indivíduo, que busque desenvolver-se e crescer profissionalmente, em que haverão diversos problemas para resolver, em verdade é comum até para quem não busca tanto esse crescimento, entretanto, caso esses indivíduos não tenham noção de que é imprescindível lidar de forma estratégica até em simples ocupações, estes estarão sempre tendo que resolver problemas urgentes (que não podem ser adiados) e assim que acabarem de resolver um já haverá outro e assim por diante, precisando estar constantemente “apagando incêndios”.

Sim, mas e qual a relação disso com engenharia?

O Engenheiro, por definição, “É uma pessoa com formação técnico-científica que o torna capaz de resolver problemas tecnológicos, práticos e muitas vezes complexos, ligados à concepção, realização e implementação de produtos, sistemas ou serviços”, ou seja, é basicamente um gestor de problemas que precisa estar sempre visando formas de otimizar processos, técnicas e materiais, além de estar constantemente analisando tendências e riscos em cima de cada escolha. Logo, para que um engenheiro esteja apto a exercer sua profissão, independentemente de sua área, ele precisa ser um pensador estratégico.

Partindo do fato de que ser engenheiro pressupõe pensar estrategicamente, como isso pode ser um diferencial?

A resposta está pura e simplesmente no quão desenvolvida essa habilidade é para aquele profissional, uma vez que o diferencial não é ter e sim estar constantemente trabalhando para o desenvolvimento dela. Por exemplo, todo bom velocista precisa saber correr, logicamente, mas se este quer se diferenciar é preciso constantemente estar trabalhando no desenvolvimento desta habilidade e com o pensamento estratégico do engenheiro não é diferente.

Mas o que exatamente é essa habilidade?

Por mais que seja intrínseco ao conceito desta uma complexidade singular, é possível entendê-la a partir de simples exemplos como: um bom motorista não é aquele que possui habilidade para desviar-se de um acidente no instante que ele ocorre; um bom motorista é aquele capaz de compreender tudo que está ao seu redor e agir de tal forma a prever um possível acidente, estando preparado para as diferentes possibilidades.

Mas como é possível prever algo se o futuro é, sempre foi e possivelmente sempre será uma das maiores incertezas da humanidade?

É fato que vivemos em meio a infinitas possibilidades a cada instantes, entretanto o pensamento estratégico é utilizado quando, a partir de um conhecimento prévio, nós nos tornamos capazes de entender quais possibilidades possuem maiores chances de acontecer e, a partir disso, nos organizar e nos planejar para esses diferentes caminhos os quais cada decisão pode nos levar. Logo, essa forma de pensamento não exige que você acerte qual será o desfecho após um decisão qualquer, uma vez que, por exemplo, não se trata de acertar se o caminho A, B ou C será o caminho que lhe levará mais rápido ao seu trabalho, mas sim entender os riscos e as possibilidades a partir das peculiaridades de cada caminho e, com isso, se preparar para quaisquer adversidades que possam ocorrer após sua decisão, podendo, se preciso, alterar sua rota e até seu destino.

Compreendendo um pouco da importância dessa forma de pensar, a dúvida que ainda fica é: como desenvolver essa habilidade?

Para que se possa desenvolver essa soft skill é imprescindível investir em quatro pontos:

  • Objetivo, pois, se não houver interesse de atingir ponto futuro algum, não há necessidade ou sentido de pensar estrategicamente, uma vez que “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”, conforme já dizia o clássico, Alice no País das Maravilhas.
  • Conhecimento, pois é preciso compreender, seja por experiências ou por estudos, quais dentre os possíveis desfechos são os mais prováveis que cada decisão pode acarretar em função das singularidades de cada contexto.
  • Organização, pois a medida que se trabalha com inúmeras possibilidades de futuro e a medida que os problemas, as questões e as decisões vão se tornando mais complexas, esse ponto acaba sendo crucial para que informações importantes não se percam em meio a tempestade de possibilidades inerentes a cada situação. 
  • Planejamento, pois, assim que se tem noção de onde queres chegar e que se tem de forma organizadas as suas ideias e o seu conhecimento, é preciso traçar planos do que fazer após cada novo fato que possa ocorrer de tal forma a atingir o futuro desejado.

Aplicações do pensamento estratégico na engenharia:

Reforça-se que, independentemente da área profissional que você atua, pensar estrategicamente é uma qualidade muito demandada, uma vez que ela se relaciona diretamente, tanto com o seu nível de organização, quanto com a sua capacidade de estudar sistemas e identificar falhas e melhorias. Na engenharia, exige-se essa habilidade ainda mais, uma vez que desenvolver ou coordenar um projeto, um processo ou até um grupo de pessoas são tarefas bastante complexas, nas quais essa habilidade se mostra indispensável ao possibilitar que o engenheiro seja capaz de agir para dois propósitos principais: gerir riscos e identificar tendências.

1.  Gestão de riscos:

Ao pensar em um projeto de engenharia, podem surgir diversas eventualidades que impeçam o seu desenvolvimento e execução. Dessa forma, todo gestor deve ter em mente o cenário em que o seu projeto está sendo alocado e quais os riscos (de baixo ou alto grau) a que ele está sujeito. Essa visão holística aliada ao senso crítico do gestor, serão elementos fundamentais no sucesso ou não do empreendimento, pois com a capacidade de identificar os riscos, planejar-se antecipadamente e desenvolver planos de ação, o projeto tem maior probabilidade de não atrasar o cronograma e não exceder o orçamento, por exemplo.

Estudar a Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) é um bom início para desenvolver essa habilidade. Nessa ferramenta, é possível ponderar suas forças, fraquezas, oportunidades e riscos para identificar possíveis problemas estruturais e, assim, conseguir desenvolver ações que visam mitigar os cenários negativos.

2.  Identificação de tendências:

Será que o projeto que você pensou e está empenhando tanto esforço para construir é realmente um produto que o público precisa e vai comprar? Ou melhor, o projeto que você aprovou (enquanto gestor) e investiu um valor considerável é algo que tem relevância? Estes questionamentos devem sempre ser feitos e refeitos sempre que possível, para que ao final, um produto ou serviço que foi pensado, construído e divulgado seja aceito pelos consumidores. Essa qualidade é imprescindível hoje em dia, uma vez que os hábitos de consumo e de vida se modificam constantemente, e saber identificar as tendências de mercado é essencial para um bom gestor.

Dessa forma, entregar um produto ou serviço em partes menores – avaliando a satisfação e o progresso com os interessados – é uma alternativa viável de identificar problemas e, eventualmente, reformular os planos do projeto. Além disso, é importante, para o gestor, manter-se antenado em relação aos progressos tecnológicos e notícias de tendência de consumo para identificar oportunidades e realizar projetos mais assertivos e com maiores retornos.

Sendo assim, com base no exposto foi possível abordar a importância de se trabalhar essa soft skill para se obter bons resultados em quaisquer que forem suas atribuições e conseguir se tornar um profissional com diferencial no mercado – além dos benefícios que essa prática pode causar em sua vida pessoal, ao ajudar em decisões cotidianas. Com isso, vale enfatizar a necessidade de sempre buscar conhecimento, seja ele teórico ou prático, e ferramentas para potencializar seus insights e suas decisões estratégicas.

Por fim, para alavancar o desenvolvimento do seu pensamento estratégico é fundamental trabalhar sempre no desenvolvimento de sua organização e de seu senso crítico, para atingir essa habilidade com maior profundidade. Aliado a isso, existem diversas leituras, como “A Arte da Guerra” de Sun Tzu, “ O Príncipe” de Nicolau Maquiavel e “ O Livro dos Cinco Anéis” de Miyamoto Musashi, e até alguns jogos, como o Xadrez que podem contribuir nesse processo de desenvolvimento do pensamento estratégico. 

Referências bibliográficas: 

TZU, Sun. A arte da Guerra – Adaptação de James Clavell – 38º Edição – São Paulo/Rio de Janeiro – Editora Record, 2002.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010

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