Patologias das edificações

Escrito por: Brena Andressa Cardoso de Oliveira

O que são:

Segundo o dicionário do Google, o termo Patologia significa: “qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença”. Trazendo para a construção civil, pode-se atribuir patologia ao estudo dos danos ocorridos em edificações. Assim como o médico faria com um paciente, quando se estuda as patologias das edificações é importante conhecer as causas dos problemas, com o intuito de elaborar um diagnóstico, bem como propor soluções. 

É interessante destacar que esses problemas podem surgir no decorrer da obra ou anos depois de pronta, ou seja, podem surgir a qualquer momento. Por isso a importância de, principalmente, ter a capacidade de prever possíveis ocorrências de patologias com o fito de evitá-las. Afinal, quem nunca ouviu a famosa frase “é mais barato construir uma nova estrutura do que recuperar uma cheia patologias”. Nem todas as edificações com patologias se encaixam nessa frase, é claro, mas em muitas a falta de manutenção e correção de pequenas anormalidades ao longo do tempo pode tornar a sua recuperação total inviável financeiramente, por exemplo. 

A origem dessas doenças estruturais podem ser diversas, desde projetos mal elaborados até à utilização de materiais de baixa qualidade, sendo necessário uma análise aprofundada para se atestar a verdadeira causa. 

Principais patologias:

Existem classificações que seguem as normas técnicas brasileiras. São chamadas de microfissuras as aberturas inferiores a 0,05 mm; de fissuras, aberturas com até 0,5 mm; e trincas, aberturas maiores de 0,5 mm e menores de 1,0 mm.

1. Fissuras 

Seja em uma caminhada matinal ou em uma ida à padaria na esquina do bairro, com certeza você já se deparou com fissuras em estruturas de concreto ou alvenarias. Muitos fatores podem contribuir para o surgimento delas, e por ser uma patologia que tem uma certa incidência, muitos não dão tanto valor para a sua correção. O que é errado, pois as fissuras podem ser apenas um alerta para um problema estrutural de maior grau, afinal, trincas ou rachaduras já foram fissuras, ainda que por um instante.  

Figura 1 – Fissura no concreto

Fonte: Neo Ipsum, 2020.¹

Causas das fissuras no concreto

– Fissuras por retração: geralmente ocorre quando a umidade do concreto diminui (exsudação – eliminação da água contida no seu interior), gerando uma redução do volume. Fatores climáticos e um concreto com traço inadequado também podem provocar a retração. 

– Recalque de fundação: que é quando uma edificação rebaixa em decorrência do adensamento do solo sob a fundação (a Torre de Pisa é um exemplo de recalque diferencial, que é quando uma parte da obra rebaixa mais que a outra). 

– Fissura de origem higrotérmica: contato de materiais que apresentam coeficientes de dilatação térmicas diferentes (por exemplo, estruturas de concreto armado e alvenaria).

– Fissuras decorrentes de sobrecargas: essa chama um pouco mais atenção pela sua gravidade, pois pode levar ao colapso da estrutura. Nesse caso, as fissuras ocorrem porque a estrutura não está suportando os esforços de compressão. Isso pode ter várias causas que devem ser analisadas meticulosamente, entre elas se houve uma má execução do projeto proposto, ou ocorreu a própria falha dele. 

2. Trincas

Trata-se de um caso mais perigoso que as fissuras. As trincas provocam a separação do objeto em duas partes e a abertura não é tão superficial quanto a fissura, ela ultrapassa a camada de revestimento, podendo afetar as estruturas da construção. O engenheiro, professor e autor de diversos livros na área da construção civil Dickran Berberian relatou, em uma de suas aulas sobre patologias disponibilizadas no YouTube, que as trincas mais finas não podem ser negligenciadas, pois elas possuem maior capacidade de sucção (ou seja, puxam mais água), e isso pode criar mofos e ácaros nos imóveis. 

Figura 2 – Trinca na construção

Fonte: ECivil, 2018.²

3. Rachaduras

São maiores e mais profundas que fissuras e trincas, sendo o estado de maior alerta de ruptura dos materiais, e dependo do local de ocorrência pode até impossibilitar o uso da edificação. Pela sua magnitude, permite que a luz, o ar e a água entre em contato com a estrutura interna, podendo gerar reações químicas ou até a corrosão das armaduras. 

Figura 3 – Rachadura

Fonte: Revista Construa Negócios, 2020.³

4. Infiltração

Essa é uma que causa bastante desconforto por conta da estética, e muitas vezes, infelizmente, não é tratada com a devida atenção. Mas fique sabendo: as infiltrações são os terrores da engenharia civil. A definição dessa patologia se refere a um fluido que passa por espaços vazios de um corpo sólido. Podem gerar a destruição de pinturas, causar manchas nos cantos e mofo, sendo importante não negligenciar nenhum tipo de infiltração, ainda que ela tenha um tamanho pequeno. 

As superfícies desprotegidas facilitam o escoamento da água pelos espaços vazios, sendo a impermeabilização um excelente caminho para evitar as infiltrações. Como em todas as patologias, o mais importante é chegar na origem. Saber o que motivou aquela manifestação, o que não é nada fácil. Existem duas classificações para as infiltrações, as que ocorrem de fora para dentro (principalmente causadas pela água da chuva) e as que ocorrem de dentro para fora (geralmente por conta de vazamentos na rede hidráulica). 

Figura 4 – Infiltração com desgaste da pintura

Fonte: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura.⁴

Figura 5 – Impermeabilização de laje com manta asfáltica

Fonte: Fp impermeabilizações.⁵

5. Corrosão da armadura de aço

Outra patologia bastante presente no nosso cotidiano. Ocorre principalmente pelo cobrimento insuficiente da armadura, levando sempre em consideração que quanto mais agressivo o ambiente for, maior tem que ser o cobrimento – o que aumenta a sua proteção. 

Existem dois tipos de corrosão: a química e a eletroquímica. A primeira representa um processo mais lento, pois é quando o metal interage diretamente com os gases presentes no ambiente. A segunda é como o próprio nome diz, ocorre uma reação de oxidação e uma de redução, com a passagem de íons através de um eletrólito, e esse tipo de corrosão pode atingir um elevado grau de desgaste.

Para todo caso, é importante consultar as normas técnicas. A ABNT NBR 6118: 2004 mostra a classificação da agressividade de acordo com o ambiente, como na tabela a seguir:

Fonte: ABNT NBR 6118, 2004

A partir dessa tabela, consegue-se determinar o cobrimento necessário para cada grau de agressividade (e para cada componente ou elemento), evidenciado na tabela a seguir:

Fonte: ABNT NBR 6118, 2004

Mostra-se, portanto, a importância de se construir qualquer estrutura sob os olhares de um profissional que respeite todas as normas estabelecidas.

Outra causa dessa doença estrutural está relacionada com o destacamento de concreto, que pode ocorrer devido ao erro de seu lançamento ou de sua vibração. A situação é a seguinte: o concreto é feito de pasta de cimento e de agregados miúdos e graúdos (areia e cimento), e quando há uma vibração inadequada do concreto pode gerar a separação dos agregados do resto da pasta, ocasionando vazios no concreto. O destacamento do concreto pode ocorrer também por um erro no cálculo da relação de água e cimento (a/c), que influencia diretamente na sua resistência. Em ambas as situações as armaduras podem ficar expostas, causando o processo de corrosão. 

Figura 6 – Corrosão da armadura

Figura 7 – Corrosão do aço com trincas e destacamento do concreto

Se tivermos que montar uma lista com medidas de prevenção, sem dúvida a sequência (sem ordem de importância) seria essa:

1. Elaborar projetos que sigam as normas técnicas
2. Haver um bom controle tecnológico dos materiais empregados na construção
3. Possuir uma boa equipe para execução do projeto, aliada a uma fiscalização constante
4. Realizar manutenção preventiva

Conclusão

Entender as causas, a origem e realizar todo um estudo para encontrar uma solução para aquela “doença” manifestada nas estruturas é uma verdadeira arte. Embora a engenharia civil esteja a cada dia mais tecnológica e avançada em termos de estudos destinados a seu melhoramento (ainda não estamos no ideal, mas já avançamos muito), existem muitas patologias que não são previstas em projetos. Por isso, é necessário sempre haver manutenções preventivas, consoante a frase “é melhor prevenir que remediar”. Como já foi dito ao longo do texto, às vezes remediar pode não ser viável nem em termos estruturais nem em termos financeiros. Mas a máxima para esse assunto tão importante é: NÃO negligenciem nenhuma manifestação patológica, nunca!

Bibliografia

ANDRADE, E. Principais manifestações patológicas encontradas em edificação. Disponível em: <https://monografias.brasilescola.uol.com.br/engenharia/principais-manifestacoes-patologicas-encontradas-em-uma-edificacao.htm#sdfootnote2sym&gt;. Acesso em 16 de novembro de 2020. 

Qual a diferença entre trinca e fissura. OrçaFascio, 2017. Disponível em: <https://www.orcafascio.com/papodeengenheiro/qual-diferenca-entre-trinca-e-fissura/>. Acesso em 16 de novembro de 2020.

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NAKAMURA, J. Fissuras põem em risco a vida útil das estruturas de concreto. AECweb. Disponível em: <https://www.aecweb.com.br/revista/materias/fissuras-poem-em-risco-a-vida-util-das-estruturas-de-concreto/16243>. Acesso em: 16 de novembro de 2020.

Corrosão de armadura: o que causa e como amenizar esse dano?. Tecnosil. Disponível em: <https://www.tecnosilbr.com.br/corrosao-de-armadura-o-que-causa-e-como-amenizar-esse-dano/>. Acesso em 16 de novembro de 2020.

Imagem de capa. Disponível em: <https://revistaconstrua.com.br/noticias/engenharia/as-5-patologias-mais-comuns-da-construcao-civil/>. Acesso em 19 de novembro de 2020.

Imagem 1. Disponível em: < https://neoipsum.com.br/fissuras-no-concreto-e-suas-principais-causas/>. Acesso em 18 de novembro de 2020.

Imagem 2. Disponível em: <https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-trinca.html>. Acesso em 18 de novembro de 2020.

Imagem 3. Disponível em: https://revistaconstrua.com.br/noticias/engenharia/as-5-patologias-mais-comuns-da-construcao-civil/>. Acesso em 18 de novembro de 2020.

Imagem 4. Disponível em: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=20&Cod=2189&gt;. Acesso em 18 de novembro de 2020.