Escrito por Savanna Holanda Evangelista Gomes
A Engenharia Civil figura entre as disciplinas mais antigas da engenharia, remontando às primeiras civilizações do mundo. As raízes dessa prática podem ser rastreadas até aproximadamente entre 4000 e 2000 A.C, no Antigo Egito ou na Mesopotâmia, quando a transição de uma existência nômade para uma sedentária exigiu a construção de abrigos e infraestruturas básicas. Naquela época, o domínio desse campo era majoritariamente masculino, refletindo o padrão prevalente em quase todas as áreas. As mulheres, por sua vez, permaneciam à margem desse cenário. Embora ainda hoje uma proporção significativa de cargos na Engenharia Civil seja ocupada por homens, as mulheres têm gradualmente conquistado seu espaço nesse campo.
Inicialmente, é crucial destacar um padrão cultural arraigado que perpetua a ideia de que as mulheres não devem ocupar os mesmos espaços que os homens. Esse padrão não só explica a sub-representação feminina neste campo, mas também contribui para a escassez de modelos femininos inspiradores e para a persistência generalizada de preconceitos de gênero em diversos setores profissionais relacionados à área. Muitas vezes o preconceito vem em forma de questionamento de sua capacidade intelectual e, segundo o FIBI, elas ainda recebem 14,7% a menos que os homens que ocupam os mesmos cargos. Isso prova que a desigualdade de gênero nesse ramo tem afetado não apenas o psicológico das mulheres, mas também o bolso.
Com o passar do tempo, tornou-se evidente um avanço significativo que permitiu às mulheres conquistar seu espaço no mercado. Isso foi impulsionado principalmente pela criação de leis e pela sua resiliência diante das adversidades. Um aliado crucial nesse processo foi o programa “Mulheres Construindo Autonomia na Construção Civil”, lançado pelo Governo Federal. Esse programa visa capacitar mulheres de baixa renda e inseri-las nesse mercado, fortalecendo e ampliando a presença feminina na força de trabalho da construção civil.
Com a sua entrada no mercado, as mulheres estão se destacando, especialmente pela sua atenção aos detalhes e cuidado ao lidar com equipamentos. Isso as torna altamente procuradas para trabalhos de acabamento em obras, detalhamento final, revestimento de áreas externas e uma variedade de outras funções. É digno de nota o papel significativo que as mulheres têm desempenhado em inovação e qualificação dentro do campo da Engenharia Civil. E apesar dos desafios contínuos enfrentados, é evidente que uma mudança também tem sido refletida nas universidades. Em cursos de Engenharia Civil, a participação feminina nas matrículas atingia 30,3% em 2017, enquanto no mercado de trabalho, alcançava 26,9%. Durante o período de 1º de janeiro a 8 de agosto daquele ano, foram registrados 20.813 profissionais no conselho de Engenharia Civil, dos quais 5.842 eram mulheres.
Apesar de ainda existir uma grande ausência da presença feminina, existem muitas que servem de exemplo para as mulheres que decidem atuar na área. Algumas delas são:
Imagem 01 – Emily Warren Roebling
Emily Warren Roebling
Ela foi umas das pioneiras no ramo da Engenharia Civil e responsável pelo projeto de engenharia da Ponte do Brooklyn, em Nova York. Por possuir uma vasta gama de conhecimento em matemática e engenharia, como resistência dos materiais e construção de cabo, sucedeu o marido e sogro, que adoeceram, como engenheira chefe durante a construção da ponte. Ela foi a primeira mulher a ser líder e ainda hoje é um grande exemplo para várias mulheres, já que abriu caminhos para a igualdade de gênero.
Imagem 02 – Patricia Galloway
Patricia Galloway
Ela é uma engenheira civil e escritora que já escreveu diversos livros sobre a área e foi a primeira presidente da Sociedade Americana de Engenheiros Civis. Patrícia foi escolhida pelo presidente George W. Bush para estar entre os membros do US National Science Bord, entre outras conquistas.
Imagem 03 – Evelyna Bloem Souto
Evelyna Bloem Souto
Ela entrou para a história como a primeira mulher a ingressar no curso de Engenharia Civil na renomada Universidade de São Paulo, campus de São Carlos. Além disso, conquistou uma bolsa de estudos em Paris, na França. Durante uma visita com sua turma a um túnel em construção, enfrentou a discriminação de gênero quando foi obrigada a disfarçar-se com trajes masculinos, inclusive desenhando barba e bigode no rosto, pois a presença feminina não era tolerada no canteiro de obras, apesar da universidade ter aberto suas portas para alunas.
Imagem 04 – Enedina Alves Marques
Enedina Alves Marques
Ela foi a primeira engenheira do Paraná, formada pela UFPR no ano de 1945, além disso, ela foi a primeira mulher negra a se tornar engenheira no Brasil. Trabalhou no Plano Hidrelétrico do Paraná e atuou no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
Com esses exemplos fica claro que existem diversas mulheres que fizeram história na Engenharia Civil e que independente de todos os problemas enfrentados, resistiram e conseguiram mudar para sempre essa área, desbravando um mundo que até então só era navegado por homens e que foram e continuam sendo exemplos vivos de luta e resistência. Elas mostraram ao mundo inteiro que tinham toda a capacidade e inteligência necessária para atuar no que queriam e deram o ponta pé inicial para a luta pela igualdade de gênero e também abriram o caminho para todas as oportunidades que existem hoje.
Como pode ser visto, as engenheiras civis tem mostrado total capacidade e inovação, sempre se reinventando para superar todos os obstáculos desse mercado que, apesar dos avanços, ainda possui diversas lacunas que devem ser superadas para que seja possível a atuação livre das mesmas em sua área e para que possuam os mesmos direitos. Exatamente por isso que a resistência por parte das mulheres deve continuar até que a igualdade plena seja finalmente conquistada, tanto por parte do salários que devem ser corrigido, quanto acerca do respeito que deve ser garantido a todas.
Referências:
Sem autor.Mulheres na Construção Civil: Conheça dados estatísticos. Disponível em: https://www.sienge.com.br/blog/mulheres-na-construcao-civil-dados-e-estatisticas/ Acesso em 01 de março de 2024.
WILSON PACHECO JR. Mulheres na Construção Civil: Conheça dados estatísticos. Disponível em: https://afonsofranca.com.br/mulheres-que-fizeram-historia-na-construcao-civil/ Acesso em: 01 de março de 2024.
Sem autor.Mulheres na construção civil, um mercado que também é delas, 2019. Disponível em: https://www.sesirs.org.br/saude-na-empresa/sesi-mulheres-na-construcao-civil-um-mercado-que-tambem-e-delas Acesso em 03 de março de 2024.
Eduarda Barbosa. Mulheres que se destacam em cargos antes ocupados por homens, 2022. Disponível em:https://www.folhape.com.br/economia/mulheres-se-destacam-em-cargos-antes-ocupados-por-homens/220102/ Acesso em 03 de março de 2024.