Planejamento estratégico e construções sustentáveis: o legado das Olimpíadas de Tóquio

Escrito por: Antônio Francisco Guilherme Nascimento Freitas

A movimentada capital do Japão, sempre reconhecida pelo estilo ultramoderno combinado com construções tradicionais, recebeu a atenção do mundo inteiro por sediar os Jogos Olímpicos de 2020, entre os dias 23 de julho e 8 de agosto de 2021.

Assim como outros locais que já sediaram o evento esportivo, a capital do país necessitou adaptar a infraestrutura da cidade e, em meio a altos orçamentos, adiamento por conta da pandemia e outros fatores, qual o legado que Tóquio pode proporcionar?

Cerimônia de abertura dos jogos

Fonte: Forbes

Com um planejamento eficiente, o Japão não deixou que ocorresse qualquer atraso na entrega de obras e, ainda em 2011, antes mesmo das olimpíadas de Londres ocorrerem, já contava com mais da metade das instalações prontas, focando na revitalização de espaços já existentes e na construção sustentável.

A experiência em sediar o evento

Em 1964, Tóquio sediou pela a primeira vez os jogos olímpicos, e aproveitou a oportunidade para reerguer-se da derrota na Segunda Guerra Mundial, apresentando obras tecnológicas e modernas, como a inauguração do primeiro trem-bala do mundo. Analogamente, para a atual edição, o país aproveitou novamente a oportunidade de aplicar inovações e utilizar o evento ao seu favor, mirando projetos de revitalização das áreas mais movimentadas da cidade, que estavam com entrega prevista para 2030.

Outro diferencial buscado pelo Japão foi o reaproveitamento de 25 estruturas já existentes, construídas para a primeira edição dos jogos no país. Além disso, foram construídas 10 instalações temporárias, que pudessem ser desmontadas e reutilizadas em outros projetos, após o evento. O intuito principal de tais medidas é evitar “elefantes brancos”, como é comum em outros locais sedes, como no Rio, em que a Vila dos Atletas conta com cerca de dois terços de imóveis desocupados e o Parque Olímpico, que está praticamente inutilizado, apresentando sinais de abandono.

A reforma de estruturas já existentes

Para o reaproveitamento de estruturas, o Japão focou no processo de retrofit, em que não é necessário a realização de projetos do zero, mas a revitalização de construções antigas, com o intuito de torná-las mais seguras e confortáveis, e diminuir os custos com novos projetos.
A escolha por utilizar instalações já existentes vai ainda mais além da estratégia econômica e política de revitalização da cidade. Ela visa, também, a redução na emissão de carbono, proposta pelo Comitê Olímpico Internacional, bem como a meta do próprio país em neutralizar a emissão do composto até 2050.

Os Jogos Olímpicos mais sustentáveis da história

A responsabilidade ambiental foi um dos principais fatores considerados na construção das obras da cidade, de tal forma que a última edição dos jogos possa ser reconhecida como as olimpíadas mais sustentáveis de todos os tempos. A utilização de produtos recicláveis e biodegradáveis vão desde a produção de materiais de pequeno porte, como as medalhas, produzidas com material resgatado de lixo eletrônico, até a construção do Estádio Nacional.

Veja a seguir algumas das medidas sustentáveis nas obras japonesas.

Estádio Olímpico de Tóquio

Fonte: Engenharia 360

A construção do Estádio Olímpico de Tóquio foi alvo de muitas críticas e polêmicas, por conta do alto orçamento a ser empregado na realização do projeto da arquiteta britânica Zaha Hadid. Por esse motivo, a obra atual foi de autoria do arquiteto japonês Kengo Kuma, e destacou-se pelo implemento de materiais tradicionais do país, como a utilização de cerca de 2 mil metros cúbicos de madeira de cedro nacional.

Centro Ariake

Fonte: Globo Esporte

O Centro Ariake foi outra obra que teve a madeira como protagonista na sua construção. Foram utilizados cerca de 2300 metros cúbicos de madeira de reflorestamento.

Vila Olímpica

Fonte: Globo Esporte

A Vila Olímpica, local que hospeda as delegações de mais de 200 países, foi construída em uma faixa de terra recuperada do mar. O local contém estruturas internas fabricadas com papelão reciclado, incluindo as camas onde os atletas dormiram, que podem ser novamente reutilizadas com o encerramento do evento. Além disso, os colchões foram produzidos com polietileno, e, com o fim dos jogos, serão reutilizados na construção de produtos plásticos.

O maior investimento da história

A edição de Tóquio tornou-se a mais cara de todas as olimpíadas. Somente os gastos referentes às novas construções e as reformas nas instalações da cidade somaram cerca de 7,5 bilhões de dólares.

Mas, então, como o investimento realizado pode ter sido proveitoso para o país?

Todas as escolhas realizadas pelo Japão advém de pensamentos estratégicos que vão além das olimpíadas deste ano. Como já mencionado, a escolha em reformar obras já existentes adiantou o plano de revitalização de espaços da cidade e, juntamente à utilização de materiais mais sustentáveis, contribuíram para a meta nacional de neutralização da emissão de carbono.

Além disso, com a preocupação ambiental, o Japão baseou-se na economia circular, em que grande parte do material produzido, após o uso, poderá ser reciclado e reutilizado na fabricação de novos produtos.

Diagrama da Economia Circular

Fonte: GBC Brasil

Por fim, o que pode-se concluir é que o Japão, mais uma vez, além de ser sede do maior evento de esporte mundial, foi palco de inovação, dessa vez, fazendo uso da responsabilidade ambiental. Se as consequências futuras desse planejamento serão positivas para o Japão, só o tempo poderá contar, mas, sem dúvidas, as medidas de planejamento adotadas pelo país são referências, tanto para as próximas sedes dos jogos olímpicos, como para outras cidades do mundo.

REFERÊNCIAS

ENGENHARIA 360. Olimpíadas 2020-2021: conheça um pouco da Arquitetura deste evento tão aguardado. Disponível em: https://engenharia360.com/as-principais-arquiteturas-das-olimpiadas-2020-2021/. Acesso em: 7 ago. 2021.

G1: FANTÁSTICO. Veja como Tóquio se preparou para a Olimpíada, que já está marcada no calendário de 2021. (5m50s). Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/9149220/. Acesso em: 7 ago. 2021.

ISTOÉ DINHEIRO. Como Tóquio pode inspirar cidades do Brasil. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/como-toquio-pode-inspirar-cidades-do-brasil/. Acesso em: 7 ago. 2021.

VEJA. Como Tóquio se tornou a edição mais cara das Olimpíadas. Disponível em: ttps://veja.abril.com.br/mundo/como-toquio-se-tornou-a-edicao-mais-cara-das-olimpiadas/. Acesso em: 7 ago. 2021.

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