Todo início de períodos chuvosos, notícias de desastres naturais tomam conta do noticiário brasileiro. Imagens fortes de pessoas mortas, desabrigadas e sem acesso a uma infraestrutura básica por conta de deslizamentos de terra ou enchentes se espalham pela internet e assustam quem as vê. Nesse cenário, sempre surgem discussões sobre a importância da engenharia civil na prevenção e no combate desses desastres.
Em Aratuba, no interior do estado do Ceará, uma mulher e duas crianças da mesma família morreram após um deslizamento de terra que ainda deixou mais 45 pessoas desabrigadas no dia 16/03/2023. As vítimas, bem como alguns vizinhos, já haviam sido alertadas pela Defesa Civil sobre o risco de deslizamentos naquela região, porém decidiram seguir morando no local, pois era onde eles, de fato, se sentiam em casa.
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Essa situação expõe uma mazela que acompanha a sociedade brasileira há muito tempo, pois pessoas marginalizadas são obrigadas a ocupar terras em situação de risco para estabeleceram sua moradia. Caso não ocupassem esses locais, provavelmente seriam mais um para o número de 6 milhões do déficit populacional brasileiro (segundo a Fundação João Pinheiro), haja vista que a política de casas sociais do Governo ainda é muito falha. Dessa forma, esses cidadãos se estabelecem e criam vínculos com suas moradias, mesmo sabendo que estão sujeitos à desastres naturais.
Ademais, são cenas comuns os inúmeros transtornos causados por enchentes e inundações, sejam nos grandes centros das cidades brasileiras, onde causam engarrafamentos, sejam em áreas periféricas, onde acarretam o alagamento de diversas casas. Esse fenômeno é ocasionado, principalmente, por falhas no processo de drenagem urbana e pela grande impermeabilização dos solos em virtude do acelerado processo de urbanização.
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Nesse contexto, a engenharia civil surge tendo um papel fundamental na mitigação desses desastres, tanto na prevenção quanto na resposta em caso de ocorrência. A prevenção envolve o uso de técnicas e tecnologias que minimizem os riscos de desastres, como a construção de obras de infraestrutura (por exemplo, sistemas de drenagem e contenção de encostas), além de projetos de edificações mais resilientes, com medidas de proteção contra desastres naturais. Já na resposta em caso de ocorrência, a engenharia civil pode contribuir com o planejamento das cidades, incluindo a construção de sistemas de emergência e alertas.
O engenheiro civil Ney Fernando Perracini de Azevedo, presidente da ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis), afirmou que a engenharia civil, principalmente no ramo da construção, tem as atribuições de identificar e avaliar áreas de risco, bem como de projetar e executar obras que garantem a segurança ao patrimônio e às pessoas, utilizando os critérios técnicos vigentes. Além disso, o presidente comentou que uma obra segura deve estar em um lugar seguro e não em um local de risco, pois a atividade da engenharia civil deve considerar o entorno do local da construção e pensar em como a obra e o ambiente irão se relacionar.
De fato, segundo Paulo Emmanuel do Nascimento Junior, engenheiro do setor de Minimização de Desastres da Defesa Civil em Paranaguá, as obras de engenharia para prevenção em áreas de risco diminuem os efeitos dos desastres naturais. Ele também ratifica a importância de um planejamento urbano mais rigoroso e eficaz, a introdução de planos diretores nas cidades e a proibição da ocupação urbana em regiões suscetíveis a catástrofes naturais.
Já Nascimento Junior, integrante da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Litoral do Paraná – AEAA Litoral, lembra das fortes chuvas que atingiram o litoral do Paraná, em 2011, e que acarretaram a interrupção do fornecimento de água. A partir desse ano, a Defesa Civil de Paranaguá foi reestruturada e passou a ter um engenheiro para executar e acompanhar tecnicamente obras como a construção de barragens, obras de drenagem, de limpeza e de desassoreamento de rios. O que demonstra a simbiose entre a Defesa Civil e a engenharia.
No Brasil, diversas construções de engenharia civil são desenvolvidas com o fito de prevenir e mitigar desastres naturais, principalmente aqueles relacionados à enchentes e deslizamentos de terra. Um exemplo é o projeto de macrodrenagem da bacia do rio Camaçari, em Salvador na Bahia, que busca controlar o crônico problema de inundações na cidade. O projeto é uma solução integrada que inclui a construção de canais, reservatórios para armazenar água em períodos de chuva intensa e estações de bombeamento, além da recuperação ambiental de áreas degradadas ao longo do rio.
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Outro exemplo é a implantação do sistema de alerta e alarme contra enchentes na cidade de Blumenau em Santa Catarina, composto por 32 estações hidrometeorológicas que monitoram as condições climáticas, utilizando sensores de nível e pluviômetros para monitorar as condições climáticas e alertar a população em caso de risco iminente de enchentes. Já na cidade de Nova Friburgo no Rio de Janeiro, foram implantados sistemas de contenção e estabilização de encostas para prevenir deslizamentos de terra. Esses sistemas incluem a construção de muros de contenção, drenos e obras de revegetação. É válido destacar ainda que a prefeitura da cidade carioca ofereceu treinamentos e capacitações para os moradores sobre a importância da preservação ambiental e prevenção de riscos.
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Nesse sentido, se percebe que é possível aplicar a engenharia civil para construir cidades mais resilientes, que estão preparadas para enfrentar e se recuperar rapidamente de eventos adversos, como enchentes e deslizamentos de terra. Para que isso se torne possível, é necessário que os municípios adotem um planejamento urbano estratégico que considera os riscos e as vulnerabilidades das áreas urbanas, além de contar com a participação da comunidade local na elaboração e implementação de políticas públicas voltadas à prevenção e mitigação de desastres.
Destarte, a engenharia civil surge como a solução para a problemática discutida nesse texto, ajudando a erguer cidades resilientes que conseguem englobar as diversas realidades sociais, econômicas e geográficas existentes e dessa forma, propiciar moradias dignas para a sociedade brasileira, bem como proporcionar uma infraestrutura completa que consegue suportar esses desastres e rapidamente se recuperar. Assim, poderemos, de fato, ver a engenharia que salva vidas!
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Referências
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