Os míticos Jardins Suspensos da Babilônia: A engenhosidade por trás de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. 

Escrito por: Carlos Eduardo Pereira da Silva

Um marco histórico que levanta um grande debate entre historiadores sobre a sua existência, afinal realidade ou mito? Mas, que apesar disso, de um monumento em homenagem à uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, continua marcando o mundo e influenciando construções nos dias atuais. 

Contexto Histórico

De acordo com a teoria mais aceita, construídos por volta do ano de 605 a.C. os Jardins Suspensos situavam-se na cidade da Babilônia, onde atualmente compreende a região em que o Iraque está localizado. O seu surgimento teria sido no período de auge da cidade da Babilônia, em que a região da Mesopotâmia depois de passar por anos nos governos assírios, tem o governo tomado pelos babilônicos marcando o início do Império Neobabilônico, em que no reinado de Nabucodonosor II, considerado o rei mais poderoso deste período, conseguiu levar a cidade da Babilônia para os seus dias de glória e esplendor novamente, promovendo inúmeras mudanças urbanísticas, incluindo a construção dos famosos Jardins Suspensos. 

Figura 01 – Representação do Rei Nabucodonosor II.

Fonte: Segredos do Mundo.

Uma grande confusão que se tem com essa misteriosa obra vem desde o seu nome, que ao longo dos anos com a intenção de ressaltar a grandiosidade de tal construção a tradução de seu nome pode ser considerada um pouco equivocada, uma vez que os jardins não estavam realmente suspensos por cordas, cabos ou ainda alguma outra coisa do tipo, que é o que a tradução da palavra grega kremastos nos leva a entender, porém esta palavra possui mais de um significado então deve-se levar em conta que segundo escritos históricos que descrevem a construção consistia em terraços sobrepostos, mas que diante a grandiosidade de tal empreendimento, para a época podia-se passar a sensação para o observador de degraus flutuantes. 

No entanto, a ideia de que eles de fato existiram fizeram que vários artistas representassem em suas obras as suas ideias de como seriam esses jardins, que já obedeciam a ideia de vários terraços bem ornamentados. 

Figura 02 – Ilustração da interpretação do artista Maarten van Heemskerck (século XVI). 

Fonte: Portal São Francisco.

O mistério por trás dos Jardins Suspensos da Babilônia 

Pode-se dizer que das Sete Maravilhas do Mundo Antigo os Jardins Suspensos da Babilônia são, sem dúvida, os mais misteriosos. Principalmente pela falta de consenso entre os historiadores sobre a sua existência, mas que independente disso marca a imaginação geral com todo o esplendor que se acredita envolver tal empreendimento. 

Primeiramente, é curioso analisar que os gregos em suas viagens pelo Mediterrâneo, ao supostamente se depararem com os jardins acharam estes dignos de uma atração que deveria ser um feito notável da sociedade, afinal foram eles que compilaram essa obra dentro das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Mas em contraponto, um dos principais historiadores gregos, Heródoto, faz uma descrição rica em detalhes da Babilônia destacando a quão majestosa era essa cidade, contudo em nenhum momento cita a existência desses jardins, afinal seria capaz de um monumento tão gigantesco ser apagado pela grandiosidade da Babilônia como um todo? No mínimo é algo que se considera duvidoso. 

Outro debate ainda é a história de origem deste monumento, a que mais se acredita é que o rei Nabucodonosor II, teria ordenado a construção para homenagear sua esposa, Amytis, filha do rei Medes, dando-lhe de presente essa construção com a intenção de que este empreendimento trouxesse a sua esposa um sentimento de pertencimento a Babilônia, uma vez que este teria como intuito representar as cadeias montanhosas, riachos e pastagens que eram bastante comuns na terra natal de Amytis, já Babilônia tratava-se um local arenoso e plano. 

Uma outra hipótese, pouco confirmada é que teriam sido construídos bem antes pela rainha assíria Semiramis em seu governo em 810 a.C, porém essa hipótese nunca chegou a ser validada. 

Mas há ainda uma teoria mais recente, publicada em 2013 pela doutora Stephanie Dalley, importante assirióloga da Universidade de Oxford, a pesquisadora encontrou vestígios que corresponderiam aos jardins suspensos, mas eles não estariam localizados na Babilônia, e sim na antiga cidade de Nínive, além de possivelmente ter sido construída mais antigamente durante o governo do rei assírio Senaqueribe. 

A construção de um importante monumento histórico 

Além do misticismo que envolve a existência ou não dessa construção, os Jardins Suspensos apresentam uma complexidade para análise da engenhosidade que os engloba, visto que mais do que um marco na imaginação das pessoas os jardins marcaram o apogeu da grandiosidade arquitetônica e da engenharia da Antiguidade, representando um feito surpreendente de grande beleza artística que estava à frente de seu tempo e determinou as bases para grandes feitos que os sucederiam. 

Mas sua complexidade vem principalmente da análise dos materiais que a região da Mesopotâmia possuía para tal edificação. Primeiramente a Mesopotâmia era uma região relativamente pobre em minerais, então a utilização de pedras por exemplo era muito complicada, sendo que de acordo com registros antigos apenas dois lugares na Babilônia faziam uso desse recurso, os Jardins e a muralha da Cidadela do Norte. 

Os Jardins Suspensos eram basicamente constituídos por pilares descritos como cubos ocos, preenchidos com terra, que sustentavam vários terraços superpostos onde posteriormente serviam de local para uma variada vegetação, como flores tropicais e exuberantes árvores. Então basicamente a construção foi realizada com tijolos de uma mistura de palha e barro, assados ao Sol, essa era uma composição presente em muitas outras construções ao longo da cidade; aliado a isso ainda se utilizou betume para unir os tijolos. Contudo, tal estrutura apresentava uma grande desvantagem, esses tijolos se desfaziam rapidamente com o contato com água, porém chuvas eram  muito raras na região o que não fazia ser a principal questão, porém os Jardins Suspensos necessitavam de uma irrigação constante para as inúmeras vegetações que ornamentavam a estrutura,  logo tal contato frequente com água faziam com que pudesse comprometer a estrutura, sendo assim foram necessário o uso de pedras e ainda de placas de metais, como chumbo, zinco e cobre, para impermeabilização da fundação e lajes que compunham a edificação, eram recursos escassos e caros, mas de grande necessidade para que a estrutura desse empreendimento não ruísse. Diante dessa necessidade de recursos tão difíceis de se encontrar na região não é curioso que se duvide da veracidade desse empreendimento de fato ter existido. 

Para plantação das grandiosas árvores que compunham a ornamentação do monumento as grandes lajes de pedras eram revestidas com palha de cana, asfalto e azulejos, e posteriormente, preenchidas com terra funda o bastante para suportar as árvores. 

Além da complexidade do simples fato de manter a estabilidade da construção devido a umidade frequente, é fácil se perguntar de que lugar a água para abastecer os jardins era proveniente, bem acredita-se que esta era captada no Rio Eufrates, mas para que a água chegasse até o patamar mais alto era necessário a criação de um sistema eficaz de irrigação. Para tal feito, foi realizado uma bomba de cadeia que levava a água do rio Eufrates até uma piscina no patamar mais alto, a qual servia de reservatório e de lá era distribuída por canais para os patamares inferiores, que funcionavam como rios ao longo dos jardins irrigando todo esse complexo, além disso também era presente a formação de algumas cascatas que compunham sua ornamentação. A bomba de cadeia era mantida em funcionamento por mão de obra escrava que realizavam a troca de escravos ao longo de turnos. 

Além disso, os Jardins Suspensos ainda possuíam uma exibição de animais exóticos presos em cativeiro, inclusive muitos afirmam que eles foram os primeiros jardins zoológicos da história, por se tratarem de um lugar preparado para exibição desses animais engaiolados. 

Figura 03 – Representação dos Jardins Suspensos.

Fonte: Profissão História.

Influências na engenharia e arquitetura do Mundo Moderno 

Pode-se dizer que tendo existido ou não, diante dos escritos antigos e pinturas posteriormente que objetivaram representar a exuberância desses jardins, tais caíram no imaginário público e a ideia dessa existência os fizeram ser bases para empreendimentos superiores. 

  • Telhados verdes – Os Novos Jardins Suspensos

Surgindo na Antiguidade essas coberturas vegetais que ornamentavam as edificações, com o passar do tempo e com as dores do Mundo Moderno adquiriram mais do que uma função decorativa, mas um artifício sustentável utilizado no combate aos impactos negativos do crescimento da urbanização, além de compor uma das ações para reestabelecer o equilíbrio da urbanização com o meio ambiente, já que também contribui na melhoria do ar e aumento da biodiversidade local. 

Figura 04 – Telhado verde em um edifício de escritórios de Mônaco. 

Fonte: Laredo (2021).

Mais do que uma cobertura verde, essa prática ambientalista tem inúmeras vantagens, como economia financeira, devido a captação da água da chuva que pode ser utilizada em outras atividades diárias, além de que o fato de captar a água da chuva, nos centros urbanos onde há poucas barreiras de retenção de água e um escoamento dificultado, essa tecnologia sustentável pode funcionar como alternativa para redução das inundações. Além de ser reduzir a temperatura do entorno e melhorar o isolamento acústico. 

Vale ressaltar que não é toda estrutura que pode receber a instalação de um telhado verde, dessa forma é imperioso contar com o serviço de profissionais qualificados. 

Um exemplo dos telhados verdes no Brasil é o prédio do Ministério de Educação e Saúde Pública, atual Palácio Gustavo Capanema, localizado no Rio de Janeiro, fruto de um projeto urbanístico que envolvia vários arquitetos incluindo Oscar Niemeyer. 

Figura 05 – Prédio do Ministério de Educação e Saúde Pública.

Fonte: Projeto Batente.

Outro exemplo ao redor do mundo temos o ParkRoyal Collection Pickering, localizado em Singapura, que apostou em jardins suspensos em vários níveis e telhados verdes. 

Figura 06 – Fachada Parkroyal. 

Fonte: SustentArqui (2015).

Dessa forma, observa-se um grande movimento da Engenharia Civil e Arquitetura em desenvolver tecnologias que estejam conectados com a consciência sustentável de grande importância na atualidade, resgatando ideais da antiguidade e adaptando-os para o mundo moderno. Por que mais que construir prédios prioriza-se a construção de um mundo mais sustentável, inclusivo e consciente dos impactos e marcas que se deixa no planeta. 

Referências

ALMEIDA, Samuel Costa; BRITO, Gabriela Pedroza; SANTOS, Sylvana Melo. Revisão Histórica dos Telhados Verdes: da Mesopotâmia aos dias atuais. Revista Brasileira de Meio Ambiente, v. 2, n. 1, 2018. 

DRUMOND, Fernanda. Os Jardins Suspensos da Babilônia existiram? Desvendamos essa história! CasaeJardim, 2022. Disponível em: https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Paisagismo/noticia/2022/08/os-jardins-suspensos-da-babilonia-existiram-desvendamos-essa-historia.html. Acesso em: 18 de janeiro de 2023. 

SOUZA, Kym; COELHO, Yeska. Telhado Verde: o que é e quais as vantagens. CasaCor, 2020. Disponível em: https://casacor.abril.com.br/sustentabilidade/telhado-verde-o-que-e/. Acesso em: 22 de janeiro de 2023. 

TAGLIANI, Simone. Conheça alguns belos exemplos de jardins suspensos na Arquitetura e Engenharia mundial. Engenharia 360, 2021. Disponível em: https://engenharia360.com/jardins-suspensos-na-arquitetura-e-engenharia-mundial/#:~:text=Os%20novos%20jardins%20suspensos%20da,linha%20t%C3%AAm%20chamado%20bastante%20aten%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 22 de janeiro de 2023. 

WILKES, Jonny. As 7 maravilhas do mundo antigo: quais são, quem as escolheu e o que aconteceu com elas?. BBC News brasil: BBC History Revealed, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-54341234. Acesso em: 18 de janeiro de 2023. 

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